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HISTÓRIAS & CURIOSIDADES 

A freguesia de Vieira de Leiria e a sua praia, no concelho da Marinha Grande, está profundamente ligada a um dos maiores movimentos migratórios internos de Portugal. A partir de meados do século XIX, muitas famílias de pescadores começaram a procurar alternativas à pesca tradicional de cerco e arrasto (arte xávega), que se tornava perigosa com o mar agitado, especialmente durante o inverno. Quando o mar ficava revolto no fim do verão, os pescadores da Praia da Vieira deslocavam-se para as margens do rio Tejo em busca de melhores condições de pesca. Assim nasceram os avieiros — pescadores nómadas que dividiam a vida entre o rio e o mar. Com o tempo, muitos passaram a viver em casas de madeira, construídas sobre estacas para escapar às cheias do rio, dando origem às aldeias avieiras do Tejo.

Os"ciganos do rio", como os apelidou Alves Redol em Os Avieiros, desenvolveram uma cultura ribeirinha única, com tradições específicas em arquitetura, gastronomia, embarcações e técnicas de pesca. A identidade da cultura avieira sobreviveu nas terras da borda-d'água ribatejana ao longo de gerações e, ainda hoje, algumas dessas aldeias continuam a marcar presença nas margens do lejo. Em Vieira de Leiria, terra de onde partiram centenas de famílias avieiras, restam poucos vestígios e memórias desse tempo em que os pescadores fugiam da inclemência do mar em direção ao "jardim de peixe", como era conhecido o Tejo entre os avieiros.

ESCAROUPIM

Escaroupim é uma aldeia ribeirinha nas margens do Tejo, criada no início do século XX pelos avieiros, pescadores vindos da Vieira de Leiria que migravam sazonalmente para o rio em busca de melhores condições de pesca. Construíram casas de madeira sobre estacas e desenvolveram um modo de vida próprio, ligado ao rio e às suas tradições. Hoje, Escaroupim preserva essa herança cultural e etnográfica, sendo um símbolo vivo da história dos avieiros e do seu papel na identidade ribeirinha portuguesa.

escaroupim

Aldeia Museu. Antigas casas de Avieiros

escaroupim

Cais palafitico

escaroupim

Réplica do barco, onde esta Avieira trabalhava e praticamente ali vivia, com os seus pais.

A CAPELA DA PRAIA DA VIEIRA

capela praia da vieira

Conta a tradição que, há mais de cem anos, um grupo de pescadores da Praia da Vieira foi surpreendido por uma violenta tempestade no mar. Temendo pela vida, prometeram a Nossa Senhora da Vitória que, se conseguissem regressar sãos e salvos, construiriam uma capela em sua honra junto à praia.

Cumprida a promessa, ergueram uma pequena capela de alvenaria, simples mas cheia de fé, que se tornou símbolo da devoção e gratidão dos vieirenses à sua padroeira e protetora.

Com o passar dos anos, essa primeira capela foi substituída pela atual, construída em 1973 em madeira do Pinhal do Rei pelo saudoso Padre Franklim. A nova capela pretendia homenagear as antigas casas de madeira da Praia da Vieira, que aos poucos desapareceram, e é hoje a única capela em madeira em Portugal, reconhecida como Património Civil.

No seu interior encontram-se os santos padroeiros da comunidade: São Pedro, “o pescador de homens”, e Nossa Senhora dos Navegantes, protetora dos pescadores. A capela guarda ainda imagens de Nossa Senhora dos Avieiros, oferecida pelos migrantes vieirenses que, no inverno, partiam para o Ribatejo em busca de sustento, e de Nossa Senhora de Fátima, enriquecendo o património religioso local. Todos os anos, em agosto, a Praia da Vieira celebra com fé e alegria as suas festas em honra de São Pedro e Nossa Senhora dos Navegantes, mantendo viva a devoção e a tradição que uniu o povo ao mar.

capela praia da vieira
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rancho folclórico peixeiras da vieira

O Rancho Folclórico Peixeiras da Vieira é uma das mais emblemáticas expressões culturais da região da Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande. O grupo tem raízes profundas na tradição pesqueira local, refletindo o modo de vida dos pescadores da Arte Xávega e a ligação da comunidade ao mar e ao pinhal.

rancho folclorico peixeiras da vieira
rancho folclorico peixeiras da vieira
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A sua origem remonta ao final da década de 1970, quando, em 1979, o grupo foi reativado com o nome de Rancho Folclórico Infantil Peixeiras da Vieira, integrando a Biblioteca de Instrução Popular, uma coletividade fundada em 1932. Desde então, o rancho tem sido um pilar da preservação e divulgação das tradições locais, incluindo danças, cantares e trajes típicos.

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Natividade Nunes rancho folclorico peixeiras da vieira

Composto por cerca de 75 elementos, entre músicos, cantores e dançarinos, o grupo tem um extenso palmarés, com centenas de atuações em festivais de folclore nacionais e internacionais, além de participações em programas de televisão. O rancho também gravou vários discos, incluindo o CD "Praia do Lis – Recordar" em 2000. 

A Biblioteca de Instrução Popular, à qual o rancho está integrado, tem organizado diversos festivais de folclore, incluindo edições de caráter internacional, contribuindo para a promoção da cultura da Vieira de Leiria.

O rancho é membro efetivo da Federação do Folclore Português e continua a marcar presença em festivais, celebrações locais e diversas iniciativas culturais. Graças à transmissão de geração em geração, o Rancho Folclórico Peixeiras da Vieira mantém viva a tradição folclórica da Praia da Vieira, preservando o património e as memórias da comunidade. Uma curiosidade interessante: o conhecido apresentador Marco Horácio integrou o grupo nos anos 90, antes de seguir a sua carreira televisiva.

PEIXEIRAS VIEIRA
rancho folclorico peixeiras da vieira
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